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Fuja das Fake News

 
FAKE NEWS – ARMADILHA PARA CAPTURAR MENTES E CORAÇÕESAs vezes percebemos que algumas pessoas têm certa dificuldade em classificar ou não uma notícia como sendo fake news. A tradução literal do termo é muito simples – Notícia Falsa. Não há dúvidas sobre o significado da palavra fake/falso, mas quanto a palavra news/notícia pode haver. No idioma inglês “news” poderia, de uma forma mais ampla, ser simplesmente traduzido como “novidades”, já para o português a palavra notícia têm uma origem latina “notitia/notitiae”, que seria tomar consciência de informação ou acontecimento notório, recente, relevante, de amplo interesse e que ainda não foi noticiado.
Assim entendido podemos classificar mais facilmente aqueles assuntos que podem ser rotulados de notícia autêntica e aqueles que não. Um fato qualquer que já aconteceu a muito tempo poderia ser considerado como notícia somente se ainda não foi tornado público em algum momento anterior. Por outro lado se a algum fato antigo se soma um elemento novo e relevante, aí sim, este novo elemento agregado ao fato que o precede gera uma notícia. Trazer informações antigas, que já são de amplo conhecimento, sem agregar nenhum fato novo e notório tem, para o jornalismo, a mesma distorção que o “relançamento” de produtos já em circulação tem para o marketing ou a “reinauguração” de obras a muito tempo entregues tem para a política.O que foi dito parece bem óbvio, mas muitas vezes é na sutileza que uma fake se traveste de notícia.
 
Não existe “meia fake news”, se, por exemplo, alguém usar uma notícia antiga e verdadeira, acrescentando uma falsidade nova, torna este tipo de divulgação uma completa fake news, afinal sem a falsificação o evento antigo não teria hoje nenhuma relevância e não seria notícia. Fakes news não nascem ao acaso, geralmente são criadas por manipuladores, com algum tipo de interesse, para direcionar comportamentos das massas ao seu favor. Tem como objetivo conquistar mentes e corações para, de alguma forma, favorecer pessoas, empresas, instituições ou grupos. Atendem a interesses desonestos e existem desde tempos imemoriáveis, lembrando daquele velho e conhecido ditado que diz “em tempos de guerra a primeira baixa é da verdade”.
 
A história é antiga, quando Gutemberg inventou a imprensa multiplicou-se a publicação de folhetos disseminando falsas notícias. Jornais passaram por esse processo, foram vítimas e algozes das fake news. Pode parecer paradoxal, mas o melhor antídoto para credibilidade e sobrevivência das mídias profissionais de jornalismo está na existência de concorrentes sérios e confiáveis, que a qualquer momento podem apontar os erros mais grosseiros do seu opositor, garantindo um certo equilíbrio e credibilidade aos meios de comunicação. Durante muito tempo divulgar notícias foi privilégio dos veículos de imprensa, normalmente instituições formais, organizadas e profissionalizadas. Mas a internet virou este conceito do avesso, hoje qualquer usuário pode não apenas compartilhar como criar fake news, pois é fácil ocultar a fonte original de uma fake, utilizando perfis anônimos ou falsos. Para atingir seus objetivos os criadores dessas fakes pegam carona nas novas tecnologias trazidas pela internet, que permitem disseminar informações sem estabelecer regras, até que a sociedade crie ferramentas para inibir ou minimizar a sua criação, reprodução e multiplicação.
 

Podemos até comparar a internet de hoje como sendo uma espécie de velho oeste das fakes news, um território ainda sem leis abrangentes, onde vale quase tudo e muitas vezes prevalece lei do mais forte e mais esperto. A comunidade pode, e vai, criando mecanismos de proteção e defesa, mas o processo é lento, não é espontâneo e geralmente são trazidos a força. Exemplos recentes de inclusão de regras de conduta e punição em mídias sociais mostram que estas somente foram criadas após grandes anunciantes retirem seus investimentos em propaganda.

Muitos podem ver grande utilidade em conquistar corações e mentes, pois estes sempre terão um comportamento subjetivo, muitas vezes negando as mais óbvias evidências. Pessoas tendem a aceitar mais facilmente como verdadeiras aquelas notícias que reforçam suas crenças, ao mesmo tempo que tendem a recusar ou desconfiar daquelas que negam. Em continuidade compartilham as que aceitaram e descartam as que negaram, formando assim um círculo vicioso.

Manipuladores usam técnicas profissionais de desinformação, criam falsos perfis para disparar fakes, programam “robôs da internet” para disseminar em grande escala até alcançar os replicadores com perfis verdadeiros que compartilham a fake em seus grupos,. Sem se dar conta muitos usuários são usados maliciosamente para disseminar sentimentos de amor ou ódio, respeito ou desprezo, confiança ou medo, empatia ou aversão, de acordo com os objetivos destes manipuladores.As fakes alcançaram no mundo todo um poder que seria difícil de imaginar a poucos anos atrás, pois podem, em um curto espaço de tempo, eleger ou derrubar governantes, destruir reputações de pessoas e instituições, desacreditar a ciência, disseminar uma pseudociência e até mesmo estimular guerras.Os estragos trazidos pelas fakes não discriminam seus alvos, podem atingir pessoas notórias ou qualquer outro.

Já vi grupos se esvaziarem e amizades antigas se desfazerem devido as emoções exageradas trazidas por fakes, é uma pena. É necessário muita atenção e cautela para não cair nas garras dos manipuladores e somar mais uma vítima desse fenômeno.Não compartilhar material duvidoso e preferir se comunicar com comentários e opiniões próprias evita muitos enganos e é muito mais construtivo.

Um forte aliado para evitar a disseminação de fakes e manter a união dos grupos é a aplicação de regras claras e rigorosas quanto aos compartilhamentos. E sempre vale lembrar que em uma democracia a liberdade de expressão não dá a ninguém o direito de criar e disseminar fatos e informações falsificados.

Edson Menezes

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